“Quantas vezes já vi esta cena? Quantas vezes ela já se repetiu aos meus olhos? Neste mundo seco, onde tudo vale nada, a vida também vale bem pouco. Todos já estão acostumados. Por que se admirar?
A custo me refreio a montaria e me encosto ao pé da barranca para deixar passar aquele grupo de cinco pessoas, cinco mulheres magras, de certo mais velhas do que os anos que têm, segurando as alças daquela caixa de sabão transformada em caixão de enterrar crianças. As tábuas estão revestidas com um trapo de seda azul pregado com alfinete. Por um momento, vejo na terra as cores do azul do céu.
–É um anjo - diz a mulher que deve ser a mãe, quase me pedindo desculpas.
- Deus resolveu tirar desse mundo.
- De que morreu?
- Barriga inchada.
É a miséria do Nordeste, mesma e sempre. A criança morreu botando vermes pela boca, comendo terra, enchendo-se de terra por dentro, defunto em vida, enterrado antes do tempo”.
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