por Nadja Claudino - nadjaclaudino@yahoo.com.br
Há livros que quando abertos não são apenas instrumentos de conhecimento, mas tornam-se instrumentos de sonhos e de grandes descober-tas.
Um dia um desses livros caiu em meu poder: “Do miolo do sertão” era o título, o subtítulo dizia que era a história de Chico Rolim, ex-prefeito de Caja-zeiras. Peguei o livro e jul-guei antes de abrir, imaginei ser uma história banal de políticos, com obras e nomes disso e daquilo, mas ao abrir a primeira página me deparei com essa frase “os dias de tão bons, eram todos iguais”. Fui então à procura desses dias bons, e descobri um menino órfão e pobre, Francisco Matias Rolim. Quando me dei conta estava lendo a história com emoção, os so-nhos do menino de estudar, de ajudar a família me ca-tivaram.
Sebastião Moreira Duarte e Chico Rolim
Por meio da escrita poética de Sebastião Moreira Duarte, as tragédias, as aventu-ras, as anedotas e a determinação de Francisco me fizeram perceber que estava diante de um homem e de um livro extraor- dinários. Depois de algum tempo, quando estava pagando a disciplina de História da Paraíba, no curso de História do CFP, a professora Viviane Ceballos nos pediu que grupos fossem formados para a produção de documentários que serviriam como trabalho para a terceira nota. Me reuni com a amiga Gerlândia Gouveia e depois de pensarmos em diversos temas me lembrei de Chico Rolim, minha amiga topou e nós saímos tal como Glauber Rocha: “com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” a procura de nossa história.
Fizemos o contato com Chico Rolim, que nos recebeu em seu quarto, confortavelmente sentado em sua cama, pronto a responder as nossas perguntas. A simpatia desse homem não conhece limites, per-cebendo que estávamos um pouco nervosas, ele logo quebrou o gelo; necessitando de um lenço, olhou para mim e disse: “pegue aí no guarda roupa minha filha”, depois disso nos sentimos à vontade e a conversa fluiu durante uma manhã inteira. Falamos sobre sua vida de homem público e dos acontecimentos políticos no âmbito es-tadual e nacional que influenciaram seu governo. Re-lembrou Getúlio Vargas, o golpe militar de 1964 e nos surpreendeu ao lembrar as fortes palavras de Brizola em defesa de João Goulart. Nesse momento empostou a voz e disse que ouviu Brizola falar à meia noite, na Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, a seguinte frase “Não darei o primeiro tiro, darei o segundo e até o último”.
Grande memória e lucidez. A conversa versou sobre tudo, sua vida comercial no Maranhão, as tragédias familiares, seu ingresso na política, as realizações, a modernização que trouxe a ci-dade de Cajazeiras eram relem-bradas por ele com um brilho no olhar, uma força na voz; a felicidade de compartilhar sua história estava estampada em seu rosto. Vendo esse homem de perto e conversando com ele percebi que Chico Rolim é daquele tipo de pessoa que realiza e que viveu em um tempo em que tudo precisava ser feito, por isso fundou escolas, comprou o terreno onde se localiza a UFCG, pavimentou ruas e lutou pelo engrandecimento da cidade que o tinha acolhido. Para minha surpresa me confidenciou que ainda hoje gosta de andar olhando as obras realizadas pela Prefeitura, mostrando assim a preocupação com o trabalho que começou, desejando sempre melhorias para a população de Cajazeiras.
Ao final da entrevista, eu e Gerlândia saímos felizes da casa de Chico Rolim, nossa ideia tinha dado certo, na câmera estava registrado o material bruto do nosso documentário, que contou também com entrevistas realizadas com o professor Rubimar Marques Galvão e com o comerciante Djalma Alves. Corremos para editar o vídeo e escolhemos como trilha sonora uma música de Belchior que diz: “eu era alegre, como um rio, um bicho, um bando de pardais, como um galo, quando havia, quando havia galos, noites e quintais...”, pois entendemos que Chico Rolim, com mais de noventa anos, lúcido e apaixonado por sua vida, sabe enfrentar as adversidades com alegria e escreve com trabalho e honestidade sua própria história.
Nadja Claudino – contista, cronista e membro do conselho editorial da Revista Acauã. Aluna do Curso de História da UFCG/Cajazeiras.
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por Nadja Claudino - nadjaclaudino@yahoo.com.br
Há livros que quando abertos não são apenas instrumentos de conhecimento, mas tornam-se instrumentos de sonhos e de grandes descober-tas.
Um dia um desses livros caiu em meu poder: “Do miolo do sertão” era o título, o subtítulo dizia que era a história de Chico Rolim, ex-prefeito de Caja-zeiras. Peguei o livro e jul-guei antes de abrir, imaginei ser uma história banal de políticos, com obras e nomes disso e daquilo, mas ao abrir a primeira página me deparei com essa frase “os dias de tão bons, eram todos iguais”. Fui então à procura desses dias bons, e descobri um menino órfão e pobre, Francisco Matias Rolim. Quando me dei conta estava lendo a história com emoção, os so-nhos do menino de estudar, de ajudar a família me ca-tivaram.
Sebastião Moreira Duarte e Chico Rolim |
Por meio da escrita poética de Sebastião Moreira Duarte, as tragédias, as aventu-ras, as anedotas e a determinação de Francisco me fizeram perceber que estava diante de um homem e de um livro extraor- dinários. Depois de algum tempo, quando estava pagando a disciplina de História da Paraíba, no curso de História do CFP, a professora Viviane Ceballos nos pediu que grupos fossem formados para a produção de documentários que serviriam como trabalho para a terceira nota. Me reuni com a amiga Gerlândia Gouveia e depois de pensarmos em diversos temas me lembrei de Chico Rolim, minha amiga topou e nós saímos tal como Glauber Rocha: “com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” a procura de nossa história.
Fizemos o contato com Chico Rolim, que nos recebeu em seu quarto, confortavelmente sentado em sua cama, pronto a responder as nossas perguntas. A simpatia desse homem não conhece limites, per-cebendo que estávamos um pouco nervosas, ele logo quebrou o gelo; necessitando de um lenço, olhou para mim e disse: “pegue aí no guarda roupa minha filha”, depois disso nos sentimos à vontade e a conversa fluiu durante uma manhã inteira. Falamos sobre sua vida de homem público e dos acontecimentos políticos no âmbito es-tadual e nacional que influenciaram seu governo. Re-lembrou Getúlio Vargas, o golpe militar de 1964 e nos surpreendeu ao lembrar as fortes palavras de Brizola em defesa de João Goulart. Nesse momento empostou a voz e disse que ouviu Brizola falar à meia noite, na Rádio Mayrink Veiga do Rio de Janeiro, a seguinte frase “Não darei o primeiro tiro, darei o segundo e até o último”.
Grande memória e lucidez. A conversa versou sobre tudo, sua vida comercial no Maranhão, as tragédias familiares, seu ingresso na política, as realizações, a modernização que trouxe a ci-dade de Cajazeiras eram relem-bradas por ele com um brilho no olhar, uma força na voz; a felicidade de compartilhar sua história estava estampada em seu rosto. Vendo esse homem de perto e conversando com ele percebi que Chico Rolim é daquele tipo de pessoa que realiza e que viveu em um tempo em que tudo precisava ser feito, por isso fundou escolas, comprou o terreno onde se localiza a UFCG, pavimentou ruas e lutou pelo engrandecimento da cidade que o tinha acolhido. Para minha surpresa me confidenciou que ainda hoje gosta de andar olhando as obras realizadas pela Prefeitura, mostrando assim a preocupação com o trabalho que começou, desejando sempre melhorias para a população de Cajazeiras.
Ao final da entrevista, eu e Gerlândia saímos felizes da casa de Chico Rolim, nossa ideia tinha dado certo, na câmera estava registrado o material bruto do nosso documentário, que contou também com entrevistas realizadas com o professor Rubimar Marques Galvão e com o comerciante Djalma Alves. Corremos para editar o vídeo e escolhemos como trilha sonora uma música de Belchior que diz: “eu era alegre, como um rio, um bicho, um bando de pardais, como um galo, quando havia, quando havia galos, noites e quintais...”, pois entendemos que Chico Rolim, com mais de noventa anos, lúcido e apaixonado por sua vida, sabe enfrentar as adversidades com alegria e escreve com trabalho e honestidade sua própria história.
Nadja Claudino – contista, cronista e membro do conselho editorial da Revista Acauã. Aluna do Curso de História da UFCG/Cajazeiras.
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