por Francisco Frassales Cartaxo
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Imagem meramente ilustrativa |
Cocada era um bandido chegado a “perversões de ordem moral. Bíblia em mãos, forçava mulheres a fazerem um juramento. O conteúdo da promessa era a entrega do próprio corpo ao cangaceiro. Dessa forma, o astuto deflorador agia desde razoável lapso de tempo”. Assim, o juiz de direito Sérgio Dantas resumiu o perfil de Manoel Marinho, o Cocada, que atuou no final do século 19 e início do século 20, integrado ao bando do famoso cangaceiro Antônio Silvino. Como se nota, Cocada era um tarado.
Pernam-
nambuco. No cangaço foi uma figura menor e tinha conduta muito diferente da de Antônio Silvino (foto). Este pautava sua ação bandoleira seguindo alguns princípios morais, costumava respeitar as famílias de suas vítimas, naquele mundo de violência, bru-talidade policial, assalto, roubo, per-versidade, mortes chocantes, deixando a população de vasta área do Nordeste em permanente clima de insegurança, medo e terror.
Certa vez, uma ordem do chefe Antônio Silvino para molestar viajantes, perto do po-voado de Mogeiro, gerou desavenças entre seus homens e colocou os cangaceiros Rio Preto e Cocada em posições conflitantes, em atitude de insubordinação. Algo ina-ceitável no cangaço. Por isso, Cocada teve de formar um subgrupo autônomo. Não se tornou, porém, inimigo de Silvino, tanto que a ele se juntava quando da execução de importantes ações criminosas, aliás, uma prática comum a todas as fases da história do cangaço. Cocada liderou seu pequeno grupo durante três a quatro anos, adquirindo fama de perverso a aterrorizar lugarejos, fazendas e engenhos.
Cocada terminou vítima de suas perversões. Conta o juiz-escritor Sérgio Dantas que, em fins de novembro de 1907, ele “tentou desvirginar uma das filhas de seu com-panheiro, José Félix Pacheco, o Pinica-pau. A atitude, cla ro, foi desaprovada pelo próprio Félix e demais homens do bando.” Que fizeram então? “Armaram uma cilada pa-ra Cocada e em lugar seguro o mataram com trinta e cin-co facadas. Ao fim do trucidamento lhe arrancaram uma orelha e guardaram como troféu e prova da façanha”.
Ainda segundo o juiz Sérgio Dantas, “Quando presos, pos-teriormente, os cangaceiros en-volvidos na morte de Cocada entregaram a orelha do bandido à Polícia de Timbaúba. O capitão Filadelfo Dutra a colocou em um frasco de álcool e deixou o bi-zarro troféu à vista da legião de curiosos que acorreu à Dele-gacia.” Esta é uma das versões para a morte de Manoel Marinho. Existem outras. Por exemplo, ele teria morrido após troca de tiros com a polícia, nas proximidades de Serrinha, hoje cidade de Juripiranga. Outra versão, fantasiosa, fala em morte por causa de problemas intestinais graves pela ingestão excessiva de abacaxi.
Obtive esses dados no livro “Antônio Silvino – o cangaceiro, o homem, o mito”, de Sérgio Augusto de Souza Dantas, juiz de direito em Natal, sua terra. O autor já publicou mais dois livros: “Lampião e o Rio Grande do Norte – a história da grande jornada” e “Lampião entre a espada e a lei”. A segunda edição da biografia de Antônio Silvino foi publicada em Cajazeiras, em 2012, pela Editora e Gráfica Real. Sem dúvida, um motivo a mais para ler o bem fundamentado estudo do juiz Sérgio Dantas.
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