quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Desvendando Moro

       O sistema judiciário, incluso o STF, não tem coragem de abortar as arbitrariedades do famigerado juiz Sergio Moro por uma razão muito simples. Este poder é be-neficiário da corrupção, igualmente aos políticos e toda a casta de privilegiados que, por conseguinte, se apavora do furor da mídia, defensora intransigente da manutenção de todas os privilégios usufruídos pela minoria,  cujos parcos sobejos alimentam e satisfazem a classe média, trans-mutando-a em audazes soldadinhos dentro da estrutura social.
  O professor Rogério Cezar de Cer-queira Leite, articulista e e membro do conselho editorial  do jornal Fo-lha de São Paulo, em artigo pujante e judicioso em que realça o viés autoritário e messiânico do juiz Sergio Moro, quixotesco herói, mais um dos elegidos midiáticos, que o tempo, este senhor de tudo, desfaz-os impiedosamente.
     Vamos ao artigo:

     "O húngaro George Pólya, um matemático sensato, o que é uma raridade, nos sugere ataques alternativos quando um problema parece ser insolúvel. 
     Um deles consiste em buscar exemplos semelhantes paralelos de problemas já resolvidos e usar suas soluções como primeira aproximação. Pois bem, a história tem muitos exemplos de justiceiros messiânicos como o juiz Sergio Moro e seus sequazes da Promotoria Pública.
     Um deles consiste em buscar exemplos semelhantes paralelos de problemas já resolvidos e usar suas soluções como primeira aproximação. Pois bem, a história tem muitos exemplos de justiceiros messiânicos como o juiz Sergio Moro e seus sequazes da Promotoria Pública. 
   Dentre os exemplos se des taca o dominicano Girolamo Savonarola, representante tar dio do puritanismo medieval. É notável o fato de que Sa-vonarola e Leonardo da Vinci tenham nascido no mesmo ano. Morria a Idade Média estrebuchando e nascia ful-gurante o Renascimento. 
   Educado por seu avô, empedernido moralista, o jo-vem Savonarola agiganta-se contra a corrupção da aris- tocracia e da igreja. Para ele ter existido era ab-solutamente necessário o campo fértil da corrupção que permeou o início do Renascimento. 
     Imaginem só como Moro seria terrivelmente infeliz se não existisse corrupção para ser combatida. Todavia existe uma diferença essencial, apesar das muitas conformidades, entre o fanático dominicano e o juiz do Paraná -não há indícios de parcialidade nos registros históricos da exuberante vida de Savonarola, como aliás aponta o jovem Maquiavel, o mais fecundo pensador do Renascimento italiano. 
     É preciso, portanto, adicionar um outro componente à constituição da personalidade de Moro -o sentimento aristocrático, isto é, a sensação, inconsciente por vezes, de que se é superior ao resto da humanidade e de que lhe é destinado um lugar de dominância sobre os demais, o que poderíamos chamar de "síndrome do escolhido". 
     Essa convicção tem como consequência inexorável o postulado de que o plebeu que chega a status sociais elevados é um usurpador. Lula é um usurpador e, portanto, precisa ser caçado. O PT no poder está usurpando o legítimo poder da aristocracia, ou melhor, do PSDB. 
     A corrupção é quase que apenas um pretexto. Moro não percebe, em seu esquema fanático, que a sua justiça não é muito mais que intolerância moralista. E que por isso mesmo não tem como sobreviver, pois seus apoiadores do DEM e do PSDB não o tolerarão após a neutralização da ameaça que representa o PT. 
     Savonarola, após ter abalado o poder dos Médici em Florença, é atraído ardilosamente a Roma pelo papa Alexandre 6º, o Borgia, corrupto e libertino, que se beneficiara com o enfraquecimento da ameaçadora Florença. 
     Em Roma, Savonarola foi queimado. Cuidado Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira. Só vai vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes. 
     Ou seja, enquanto você e seus promotores forem úteis para a elite política brasileira, seja ela legitimamente aristocrática ou não".
ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE *, físico, é professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha*
      O artigo do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite bateu fundo no presumido saber do juiz Moro que se acha onisciente, orgulhoso de uma popularidade criada pelos eflúvios midiáticos e em resposta ao artigo, o juiz federal Sergio Moro acaba por reforçar e demonstrar, na prática, o messianismo apontado por aquele. Vale dizer, então, que a reação só confirma a eficácia do texto.
                     A resposta:
   "Lamentável que um respeita-do jornal como a Folha conceda es paço para a publi cação de artigo como o "Desven-dando Moro", e mais ainda sur-preendente que o autor do artigo seja membro do Conselho Editorial da publicação. Sem qualquer base empírica, o autor desfila estereótipos e rancor contra os trabalhos judiciais na assim denominada Operação Lava Jato, realizando equiparações inapropriadas com fanático religioso e chegando a sugerir atos de violência contra o ora magistrado. A essa altura, salvo por cegueira ideológica, parece claro que o objeto dos processos em curso consiste em crimes de corrupção e não de opinião. Embora críticas a qualquer autoridade pública sejam bem-vindas e ainda que seja importante manter um ambiente pluralista, a publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor, sem qualquer base factual, deveriam ser evitadas, ainda mais por jornais com a tradição e a história da Folha".
SERGIO FERNANDO MORO, juiz federal (Curitiba, PR)
. SERGIO FERNANDO MORO, juiz federal (Curitiba, PR)

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