“As experiências eram desencontradas. Os sertanejos não sabiam em que se apegar. Teríamos inverno em 1942? A barra de Conceição, as pedras de sal no dia de Santa Luzia, o nevoeiro de Natal poderiam falar por açudes cheios, gado gordo, sertão verde respondendo às chuvas. O canto do caboré, a casa do João-de-barro, o halo em torno à lua, o por do sol diziam: o ano será seco.
Tocamos a esperar. Janeiro não choveu. Acordávamos cedinho para observar o nascente. Que segredos decifrar? Nada de chuva. Fevereiro. As brocas feitas, as roças esperando, o gado pedindo água. Alguns urubus começavam a se aglomerar nos pés de trapiá, na marizeira desgalhada, por cima das estacas do curral. Outros voejavam em círculos, deleitados, inspecionando o chão, adivinhos da catástrofe.
Chegou o mês de março. Promessas, rezas a São José. Como poderíamos nós ser tão castigados? Afinal, seria o nosso povo assim tão pecador que estivesse a merecer, quando menos esperasse, mais uma punição? O santo teve pena dos seus sertanejos. A 19 do mês, quando já nos escapava a última esperança, caiu uma chuva grossa, de fazer córrego. Os matutos tomavam banho nas biqueiras e bebiam cachaça à vontade, aquela chuva lavava a alma como uma bênção salvadora”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário