segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Meu primeiro encontro com a morte.

     A primeira vez que me deparei com a morte em setembro de 1963, dez anos incompletos
  Devido ao longo feriado, domingo dia 6 (domingo) e dia 7 (segunda) dia da independên cia do Brasil, todos da minha família fomos para o sítio Arara do meu avô materno, não havia programa melhor do que aquele para mim. Ficar solto, correndo pelas moitas, subindo a serra, matando passarinhos, tomar banho no belo açude, tudo que era possível a uma criança da época.
     Nesta algazarra se viu um carro riscar, coisa não muito comum naqueles idos, no horizonte da entrada do sítio. Alguma novidade, com certeza! A meninada corria pra ver o que era. Desceram uns senhores sisudos, sem muita conversa, e foram diretos falar com papai, na época prefeito eleito da cidade, próximo à sua posse. 
     Não entendemos nada já que a conversa foi a portas fechadas, logo vi papai e mamãe com os olhos marejados de lágrimas e ar de que o mundo tivesse acabado.
   Foi um Deus nos acuda! Lo-go papai bo-tou todo mun-do no carro e foi direto para Cajazeiras, ou melhor, para o Hospital Regional de Cajazeiras. Ficamos no carro com a Dazima a nos vigiar. Voltaram chorando. Ao chegarmos à nossa casa, à Rua Padre Rolim nos fundos da prefeitura municipal já era grande a multidão e o chororó maior ainda.
     Não entendia toda a extensão de que acontecia ao redor, nunca tinha me deparado com situação assemelhada. Morte ainda era uma coisa muito vaga para mim.
    Aproveitando um longo feriado, domingo dia 6 (domingo) e dia 7 (segunda) dia da independência do Brasil, fui com meus pais e irmãs se encontrar com os primos no sítio Arara do meu avô, não havia programa melhor do que aquele para mim. Ficar solto, correndo pelas moitas, subindo a serra, matando passarinhos, tomar banho no belo açude, tudo que era possível a uma criança da época.
    O ambiente era lúgubre. Tio Matias era o caçula dos irmãos de papai. Ele morreu exatamente no primeiro final de semana depois em que tinha sido anunciado o resultado da eleição de prefeito municipal com a vitória de papai. Tio Matias tinha ido, pela manhã, ao distrito sousense de São Gonçalo com a família na sua recém-comprada Rural Willys, em outro carro ia também com a família, o irmão Micena, na volta numa curva o carro capotou, ceifando a sua vida e de duas moças que os acompanhava. Não se conhece ou enterro igual em Cajazeiras.
Foto-legendas do episódio:

O cortejo na Rua Padre Rolim 
já chegando à Rua Padre José Tomás. 
Feriado na cidade, 
uma multidão jamais vista até então acompanhava 
o último adeus de Matias Duarte Rolim.

Fernando Simão, de saudosa memória, 
dono de um salão de barbearia no calçadão de Cajazeiras, não abria mão de levar em todos os enterros da cidade, a haste encimada com o crucifixo que abria o cortejo fúnebre.

Recém eleito prefeito de Cajazeiras, 
esperando o dia da posse, 
com o fumo do luto do irmão na aba do paletó, 
hábito em desuso nos tempos atuais.

Na missa se sétimo dia do irmão 
na catedral da cidade 
com a presença das autoridades municipais.
.
Já no ano de 1964, 
ano seguinte após a perda do irmão, 
Francisco Rolim já prefeito ainda não havia 
abandonado o seu fumo lutuoso. 
Na foto com o Secretário de Educação 
do Estado da Paraíba 
e o empresário Raimundo Ferreira.
Ainda consternado 
pela recente morte do irmão, 
Francisco Matias Rolim recebe o leme da cidade
 das mãos do prefeito, Dr. Otacílio Jurema, 
que ora encerra o seu profícuo mandato 
à frente dos destinos da cidade do Padre Rolim.

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